O que vim mapear aqui...

Mapeando meus sentidos e rabiscando impressões.

"Porque tu sabes que é de poesia, minha vida secreta..."(De Ariana para Dionísio)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sem eira, nem beira.

                                            Foto do Rio São Francisco, tirada da balsa, em Penedo-AL


"O mundo me condena
E ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber
Se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome.
"
(Noel Rosa)





Eu já fui "Santos", hoje sou "Montenegro" por herança matrimonial.
Disse ao juiz, na hora do divórcio, que mudaria quando casasse de novo, caso o próximo marido tivesse um sobrenome mais interessante.
Humor negro. Afinal, vivo numa terra onde os sobrenomes valem tanto quanto o status e o poder politico.
O que me enoja.
A clássica e piegas frase de perguntar :"voce sabe com quem está falando?" ainda dita normas num estado nutrido por um coronelismo
que nunca deixou de existir. Eles estão apenas mais polidos, vestem-se melhor, minimizam os vestigios, andam em carros mais pomposos.
Eu não tenho nome, meu sobrenome serve apenas de enfeite e motivo nenhum de ostentação. Aliás, se posso me gabar de algum, o faria com o Ferreira. Herança paternal.
Brinco, dizendo que sou prima de Virgulino(O Lampião), enalteço sua valentia, e no fundo ostento seu destemor como se eu a tivesse herdado pelo parentesco fantasiado.
Mas a verdade é que minha coragem é pouca, e não vem do laço familiar. Vem do medo.
De perder o sentido das coisas, de me perder no meio dessa sociedade que usa o sobrenome e seus meios sórdidos pra sobressair-se. Medo de que minha coragem se perca
ao conversar com meu pessimismo, que sabe que pode mudar pouco esta realidade.
A verdade é que prefiro ser um zé ninguém. Sem eira, sem beira, sem medo de recomeçar a cada vez que cair.
Sem desperdiçar as oportunidades de aprender. De descobrir quem sou, o que faço aqui e como aprendo com as pessoas mais simples, aquelas que não tem sobrenome, mas tem vida dentro de si, tem histórias e essência humana na alma.
Em pleno momento de campanha eleitoral, de malas quase prontas pra viajar, me banho de indignação diante dos sobrenomes que insistem em desfilar diante de mim, da minha vontade de querer escrever outra história pro meu estado, pra esse povo sofrido e ao mesmo tempo, tão rico. Que não precisa de sobrenome, precisa de oportunidade pra mostrar sua força.
E Viva aos santos, silvas, josés, marias, pereiras, ferreiras, que fazem parte de uma riqueza sem sobrenome, mas com iniciais que pretendo deixar gravadas na memória, na emoção, no mapeamento digital do mundo. Na nossa história e na de quem decidir nos acompanhar. Seja qual for seu brasão familiar, diga seu nome, junte-se a nós e vamos mapear alagoas. Colaborar com quem carrega na alma, a herança de uma história valiosa.


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Mapeando minha "ilusão maravilhosa" por uma história diferente.Terei ficado mais hostil após a amizade com o Rambo? Sorte minha, que Mestre dos Magos me ensinou a desaparecer.

Daqui a pouco é dia da Árvore, vamos plantar conhecimento?


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